sábado, 23 de julho de 2011

Julgar-devemos ou não?

                  

                    Durante muitas oportunidades, principalmente nestes últimos tempos, esta questão sobre "julgar" aparece em discussões entre amigos, palestras, ou mesmo familiares. Em sua maioria, as pessoas imediatamente não defendem o ato de julgar. Colocam de uma maneira até pecaminosa, preconceituosa este tipo de ação. E eu fazia parte desta maioria, mesmo porque até a palavra é forte e nos leva a um grau egoísta e de superioridade ao querer julgar alguém.

                   E até segundo uma frase bem conhecida de alguém que tenho imensa admiração, Chico Xavier, vinha a dar sustentação a minha opinião: "Uma das mais belas lições que tenho aprendido com o sofrimento: Não julgar, definitivamente não julgar a quem quer que seja ".

                   Se recorrermos ao Dicionário Aurélio, ele definirá que julgar é decidir como um juiz, aplicar sentença, formar opinião ou juízo crítico sobre algo, avaliar.

                  A filosofia e a teoria são sempre bonitas, principalmente quando elas estão paralisada em um papel. A vida, na prática, sempre nos coloca desafios, desde os menores até os maiores. E foram nestas situações do cotidiano que comecei a ponderar melhor sobre máximas que adotamos, talvez de forma errónea. Se observarmos bem a definição de julgar, por exemplo, ela pode ser vista de maneiras diferentes. Pode ser decidir como a um juiz (e aí teria que ter gabarito para isto) e ainda aplicar a sentença, a condenação daquele ser. Se analisarmos por este aspecto do julgamento, realmente seria algo além de nossa capacidade fazer com quem quer que seja. Cada um sabe exatamente de suas dores e de suas dificuldades. Julgar ou condenar alguém, segundo princípios individuais ou mesmo de uma determinada sociedade, não seria nada cristão, nada amoroso. Porém, se adotarmos o julgar como formar uma opinião, avaliar, não seria lago diferente e talvez muitas vezes necessário?

               Se , por exemplo, houve um conflito entre dois filhos seus, a estória é narrada, você conhece exatamente a personalidade de cada um, sabe do que são capazes, você dá punição igual aos dois independente de quem tenha sido agredido e do agressor? Ou você omite-se para não se comprometer ou omitir-se de julgar ? Se usar qualquer um destes comportamentos, você no mínimo está incentivando o que errou a continuar errando e o que sofreu a agressão a ter um sendo de injustiça muito grande, ficará no mínimo muito chateado. Porque ao omitir-se de dar opinião, imediatamente você escolheu um lado, foi parcial, beneficiou o agressor, o que cometeu um erro.  Será que é deste tipo de julgamento que estamos falando? O julgamento que omite-se, que permite que algo errado siga em prejuízo de outro? Será que uma grandeza maior como Justiça não estaria sendo afetada neste contexto?

               Esta avaliação, esta análise eu creio que temos que fazer o tempo todo. E o que eu percebo, principalmente em pessoas que buscam mais freneticamente a evolução espiritual, é que elas se tornam medrosas. Começam a ficar inertes diante de situações, principalmente quando é o momento de julgar. Não fazem nada e querem entender que isto é abster-se de julgar. É certo que absteve-se de julgar, mas a que preço?  Será que deste tipo de comportamento que os Mestres falaram sobre julgamento traduz-se desta maneira? Ou eles estariam falando de algo mais severo como punir segundo nossos preceitos, meu modo de entender e decifrar regras socias? De sermos intransigentes, altamente punitivos? Em primeiro lugar, ninguém é capaz de julgar um outro ser. Podemos no máximo, julgar as ações destes seres em um determinado contexto. O julgar faz-se necessário na medida que o tempo todo fazemos escolhas. Somos seres relativamente livres e vamos trilhando nossos caminhos e influenciando outros- muitas escolhas, sem o devido julgamento, geram coisas negativas tanto a nós como para todo o Universo. Nossa inação nunca é inócua, nunca traduz o vácuo. Deixando de agir, ou mesmo de julgar, estamos sempre favorecendo um ou outro lado. Engana-se quem pensa que agindo assim está descompromissado. Deixando de agir ou mesmo de escolher, a escolha será feita de qualquer forma.



                     Imagine ainda esta dificuldade aumentar quando tivermos que julgar entre uma pessoa desconhecida e um ente querido nosso. É aí que observamos nossas qualidades mais íntimas- a imparcialidade. Você seria capaz de dizer , por exemplo, que seu filho está errado e admitir que um estranho esteja certo? Se sim , é provável que você dado como louco, como mau pai ou mãe. Mas eu não vejo desta maneira. O Amor tem que ser regado de coisas boas e corretas. Dizer que um filho está certo , ele mesmo sabendo que não, não deve ajudar muito no tipo de pessoa que você é responsável por formar.

                  As escolhas, as decisões, os julgamentos nunca serão algo fácil. Exigirá de nós um senso ético, espiritual, imparcial.  Mais complicado ainda, muitas vezes teremos que ir além do conjunto de regras sociais e morais estabelecido pela sociedade. Porque o certo, muitas vezes, a Verdade, estão bem além das regras que de certa forma temos que seguir. Estas escolhas, estão, muitas vezes, bem lá no fundo de nosso íntimo, no fundo de nossa Consciência, e chegar até lá é preciso de muita Coragem. Coragem inclusive de enfrentar a negativa dos outros, as regras injustas impostas a vários e vários anos e que não querem que sejam questionadas. Somente o corajoso é justo. Somente o Justo é Verdadeiro. E somente a Verdade leva ao Amor.

                Só para elucidar a discussão, outro dia meu filho de dez anos chegou em casa muito bravo por um conflito com um colega de escola. Escutei a situação e eu disse a ele que o outro menino estava com a razão e que meu filho estava errado. A reação imediata de meu filho foi me dizer: mas você é minha mãe. Você tem que ficar do meu lado. Eu disse a ele que eu ficaria do lado dele sempre , inclusive para dizer a ele quando eu reprovava uma ação dele. Para tentar mostrar a ele que na vida há sempre conflitos e que nem sempre acertamos. Mas saber a hora que erramos e pedir desculpas e nos redimir (porque só pedir desculpas é muito fácil ), nos faz pessoas honradas, boas, humildes e em constante aprendizado. mas ele ainda retrucou: Mas, mamãe, este menino é bagunceiro, bate em todo mundo , faz um monte de coisas erradas. E eu expliquei a ele que não estávamos julgando o menino e se ele é assim, algum motivo deve ter e não devemos saber. Eu estava olhando a situação que ele me trouxe, e naquele contexto, o meu filho não estava com a razão.

                Não podemos negar que somos seres inteligentes, com senso de moral, de ética, de bondade embutidos em nós. Tudo isto realmente só vale em momentos como este. De escolhermos, de sermos corretos, justos, independente de quem seja, independente de qualquer coisa. Somente cada um agindo assim, poderemos de fato fazer um Mundo melhor.

               Mas, para sermos assim, para decidirmos e julgarmos de forma justa, sem pretensão de punir ou condenar, é necessario que esta ação seja sempre baseada no mais alto grau de pureza. E para isto é necessário:


                 * Não se preocupar com a opinião dos outros. Não temer tomar decisões para que elas sejam ou não aprovadas por um grupo do qual tem necessidade de ser aprovado. Em outras palavras, conduzir sua ação para agradar um determinado grupo, para se sentir faznedo parte dele e para tal , ir em desencontro com seus valores e sentimentos íntimos;

                * Deixar de lado padrões fixos de comportamentos ditados por costumes, tradições ou crenças. Na maioria das vezes, estes modelos comportamentais nem são questionados, apenas seguidos. Quando algu´me ousa mudar este pafrão é logo apontado, tido como reblede, maluco e logo, rechaçado do grupo. Muitas vezes, estas crenças são tão profundas em uma sociedade que se tornam Verdades Absolutas, e portanto, inquestionáveis. Temos que tomar cuidado com estes pensamentos. Muitas vezes, para obedecer um pensamento assim, cometemos erros horríveis e profundos.


                   * Não basear sua decisão, escolha ou julgamento em uma futura consequência que pode ser desagradável a você. Fazer a coisa correta, pode até gerar algum desconforto a curto prazo, as pessoas podem não aceitar. Mas, fazer a coisa certa, de dentro de seu íntimo, certamente o que te levará a um Caminho de real tranquilidade e paz.


                   Seguir a sua verdade, aquela que traz em seu Divino, independente de qualquer outra imposição, é o caminho de uma construção de uma Vida mais justa. Isto de forma alguma deve nos tornar pessoas cruéis ou implacáveis. Devemos sempre ser misericordiosos, agir com compaixão. Porém, muitas vezes confundimos a Compaixão com a aceitação de absurdos à nossa volta. Ter compaixão é não agir de forma cruel com  que quer que seja. Não ter raiva e nem desejar nada de mal e ajudar se possível for. Mas, deixar que o Mal frutifique é tornar-se partícipe.  Devemos emtender a Compaixão como a compreensão que o seu irmão está suscetível a erro.  Não siginifca que você possui empatia com o que ele fez. É aceitar como cada um é. Para ilustrar isto, empresto um conceito budista , que acho que complementa muito sobre este tópico sobre o julgar que creio que Chico Xavier estava falando. O de julgar a profissão de algu´me sem saber dos motivos, o julgar alguém por suas roupas, julgar sem ao menos ter nenhuma necessidade para isto, pois não resultará em nenhuma escolha, decisão ou benefício. Muitas vezes nem conhecemos a criatura, e nos achamos no direito de traçar julgamentos acerca dela- algo infrutífero.
Digamos que alguém olha para uma planta
que se encontra num vaso dentro da casa.
Pelo olhar compassivo, em vez observar se gosta dela ou não,
pergunta como é que ela se sente sem a luz do sol, a água da chuva
e sem as suas plantas amigas e companheiras...
(Lama Padma Santem)


                     Realmente, este tipo de julgamento resta inócuo. Mas, sem o julgamento que traz Justiça, que respalda nossas escolhas, o Mundo seria um verdadeiro caos. Ou estaríamos afundados no vazio das inações e falta de comprometimento geral, ou estaríamos ainda mais invertidos em nossos conceitos básicos- o mais "esperto" tiraria proveito daquele de boa fé e os novos começariam a ver o torto como o caminho a ser seguido.

                  E se olharmos para os grandes Mestres,entre eles Cristo, sempre tomaram partido, sem fizeram escolhas, sempre disseram suas opiniões, e foram sempre contras às regras fixas de cada época. Vieram para revolucionar o pensamento, a forma de agir. E parece que pouco ou quase nada aprendemos ainda de fato.


                  Aja sempre guiado por seu Coração, com sua verdade mais profunda e verá, em breve, os resultados em você e naqueles que o cercam.
 


                 Um forte abraço,

                Amor e Verdade,


Renata Crivelaro.

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